quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Amazônia sustentável mapeada
Área reservada para manejo e proteção ambiental pode chegar a 1,15 milhão de km2
O Brasil tem 1,15 milhão de km2 de floresta amazônica adequados à exploração sustentável, segundo aponta estudo realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Essa é a área que poderia ser destinada à criação de Florestas Nacionais (Flonas), zonas reservadas ao uso sustentável e à proteção da biodiversidade.

As Flonas (zonas reservadas ao manejo sustentável e à proteção ambiental) correspondem a 2,6% do sistema de Unidades de Conservação na Amazônia
O número foi obtido pela superposição das características necessárias ao manejo sustentável de áreas florestais: não podem ser áreas de proteção integral; devem ter cobertura vegetal com valor comercial, baixa ocupação humana e alto potencial madeireiro; além disso, devem ser áreas economicamente acessíveis, ou seja, próximas a estradas ou hidrovias.

"Se 700 mil km2 (14%) da Amazônia fossem transformados em Flonas, já seriam suficientes para suprir o consumo total de madeira amazônica", diz Adalberto Veríssimo, co-autor do estudo, publicado na revista Science em 30 de agosto. Até 2000, as Flonas ocupavam 83 mil km2 (1,6 %) da Amazônia, e só permitiam abastecer 8% da demanda por madeira. Nos últimos dois anos foram criados cerca de 50 mil km2 de novas Flonas, o que elevou sua participação para 2,6% do sistema de Unidades de Conservação na Amazônia (que abrange ainda parques e reservas de proteção integral). A meta do governo é criar 500 mil km2 de Flonas até 2010.
Sobreposição de áreas potenciais para Flonas (em verde) e
biodiversidade (em rosa) na Amazônia (Veríssimo et al., 2000)

Segundo o estudo, o padrão atual de exploração predatória, responsável por danos excessivos à floresta e aumento do risco de incêndio, gera um ciclo econômico do tipo "boom-colapso". No início, a extração das árvores de maior valor gera um rápido crescimento econômico. Após oito anos em média, essas árvores são exauridas e inicia-se a extração das de médio e baixo valor. Em 20 anos esgota-se a madeira de valor comercial e a economia local entra em colapso. No lugar, fica apenas uma pecuária de baixa produtividade, pois o solo na Amazônia em geral é pobre para a agricultura e o clima favorece a proliferação de pragas. Em uma área de 1 milhão de hectares (ha), o número de empregos cai de 4500 no auge da exploração madeireira para 500 na pecuária.
Em zonas de manejo florestal, a rentabilidade inicial é menor, mas se mantém estável indefinidamente, bem como o número de empregos (3500 em 1 milhão de ha). "A análise indica que o manejo florestal tem uma base econômica melhor que a exploração predatória, pois pressupõe um investimento de longo prazo e favorece a população", explica Veríssimo. Além da madeira, outros produtos podem ser extraídos das áreas de manejo, como castanhas, palmito e óleos vegetais, usados nas indústrias farmacêutica e de cosméticos.

O manejo das Flonas poderia ser feito diretamente pelo governo ou arrendado a empresas privadas ou cooperativas. Medidas como taxar a madeira de origem predatória e aperfeiçoar o sistema de monitoração florestal são necessárias para incentivar o manejo e garantir seu controle.

Para proteger a biodiversidade, as Flonas devem ser combinadas com parques e reservas biológicas de proteção integral, de modo a formar mosaicos. "As Flonas formariam uma zona-tampão ao redor das reservas que impediria a invasão dessas áreas", diz Veríssimo. "Além disso, serviriam como corredores de migração de espécies."

Adriana de Melo
Ciência Hoje on-line
12/09/02

Fonte: http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3768661245501634670

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